NOSSA HISTÓRIA
As sendas da criação? Lá vamos nós. Quais poderiam ser tais sendas, senão aquelas que nossa pluma começa a abrir, a franquear? As de nossa “escritura”. E elas serão evidentemente aquelas que poderá seguir, tomar – antigamente dizia-se isto de uma melhor forma _ aquelas que sua “leitura” poderá “manter”.
Mas escrever, para quê? Para produzir um traço para “materializar” meu percurso…
(Francis Plonge)
Começamos assim a contar nossa história, nossa escritura que pretende materializar um percurso.
Nossa ideia é irmos construindo, com a colaboração dos velhos colegas, com suas memórias e registros materiais, e com os novos colegas que chegam e que contituarão chegando ao grupo, um registro de nossa história.
Iniciaremos com aquilo que poderíamos chamar história pregressa, indo, pouco-a-pouco em direção ao presente, deixando aberto o mecanismo para os registros que irão construindo o nosso futuro.
Começo com um registro daqueles que foram os pioneiros do Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região: Ismael Gripp, Sérgio Radomile, Ângelo Satalino, Rubem Alves e Hélio Amâncio.
Segue o trecho de uma entrevista com o Dr. Ismael Gripp em junho de 2005, que localiza o momento da criação do grupo que viria a ser o Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região:
Ismael Gripp: …deixe-me contar como é que tudo começou realmente: nós viajávamos juntos (para São Paulo), eu, o Hélio Amâncio, o Ângelo Satalino e o Sérgio Radomile. Um dia o Sérgio sugeriu: porque nós não formamos um grupo para estudarmos alguma coisa, vamos estudar mitologia, psicanálise ou quem sabe alguma outra coisa”. Surgiu essa conversa no carro vindo de São Paulo e como eu era muito amigo do Rubem Alves – sou conhecido do Rubem desde o meu tempo de estudante no Rio de Janeiro – e aí falei: “Olha, eu me dou muito bem com o Rubem Alves, vou convidá-lo e ver se ele não que fazer alguns encontros para estudarmos filosofia”. Eu conheci o Rubem de calças curtas na Rua da Passagem, no Rio de Janeiro, sempre brincando na Rua da Passagem. Então, eu propus ao Rubem, ele aceitou e começamos a ter encontros com ele mais ou menos uma vez por mês. (Fonte: Boletim do Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região, Setembro de 2005)
Estamos aqui no final dos anos 70.
Vasculhando os arquivos dos documentos iniciais do grupo, encontramos, nos fundos empoeirados de um armário, em caixas, registros documentais e fotos que vão nos remetendo a uma história que algum de nós preocupou-se em tornar escritura, materializando nosso percurso. O texto começa com um instigante título: “Sobre o Grupo de Psicanálise de Campinas: uma pequena introdução histórica”. Não há data, apenas um pequeno documento que, imagino, o situa no ano de 1989.
Não há também a indicação de um autor do texto, mas, possivelmente, o colega que o vir neste site, reconhecerá rapidamente a autoria. Seguem as 8 páginas que compõem o documento.
Transcrevo o início do Livro que conta, resumidamente, o início da história do, naquele momento denominado, Grupo de Psicanálise de Campinas. Trata-se conforme escrito na primeira página, de uma pequena introdução histórica.
“No início do ano de 1978, estimulados pela sua convivência no Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, bem como pelo interesse comum em sistematizar e aprofundar seus conhecimentos psicanalíticos, alguns médicos e psicólogos de Campinas decidiram constituir um grupo de estudos informal em nossa cidade. Este grupo tornou-se o embrião daquele, mais amplo que, mais tarde, viria a se chamar Grupo de Psicanálise de Campinas.
Suas atividades iniciaram-se com o estudo das contribuições da Filosofia para a Psicanálise, despertada que fora a atenção de seus membros para o tema , não só pelas citações de Freud em seus trabalhos, como pelas referências a ele encontradas na obra de Bion; este interesse foi estimulado pelo contato pessoal com este analista e suas contribuições, por ocasião das conferências pronunciadas em São Paulo em 1978.
Sob a orientação do Professor Dr. Rubem Alves, então docente de Filosofia da Ciência na Unicamp, os autores pré-socráticos foram estudados durante um ano e meio para, posteriormente, serem examinadas as contribuições de alguns filósofos existencialistas e fenomenologias.
O contato crescente com a obra de Dr. Bion motivou a aproximação do grupo ao pensamento de Kant, já que este autor era tão importante no contexto daquela. Por essa ocasião, colegas da cidade, interessados em temas filosóficos, participara de algumas reuniões, fato que introduziu a necessidade de discutir-se a difícil questão de admitir ou não a inclusão de profissionais com outra formação no grupo já que o objetivo fundamental deste era a Psicanálise.
A experiência demonstrou como é importante e necessário manter critérios fundamentais e firmes para preservar o seu objetivo: criar um espaço que permita, na intimidade que a natureza do trabalho psicanalítico impõe, a criação de um fórum de debates para a discussão de situações complexas tais como questões éticas, o desenvolvimento teórico e técnico, fórum este pensado como marco continente do crescimento pessoal.
Em 1980 estava claramente estabelecida a necessidade de um espaço propriamente psicanalítico que pudesse ajudar a organizar o complicado campo analítico, sempre sensível às questões transferenciais e contratransferenciais. O Grupo surge assim para dar a continência possível em nosso meio, quando a distância até São Paulo pode ser tão penosa e, ou até impossível de se percorrer. O Grupo nasceu assim – de uma necessidade real – para auxiliar no possível, não para substituir, as tarefas específicas do Instituto de Psicanálise de São Paulo. Em primeiro lugar a análise pessoal e os seminários clínicos e teóricos.
O grupo interessou-se pela clínica de crianças, mesmo os colegas que só tinham experiência no trabalho com adultos, como uma ocasião fértil para repensar a origem, a gênese e evolução de diferentes aspectos da personalidade; fenômenos estes preciosos para o desenvolvimento dos conhecimentos psicanalíticos e também para compreender a criança viva – nunca evoluída ou regressivamente defendida em cada adulto
Vera Stella Telles foi a primeira supervisora de crianças, convidada por Alicia Beatriz Dorado de Lisondo que já trabalhava nesta área.
No período de 1983 a 1985 o Dr Odilon de Mello Franco Filho supervisionou casos de pacientes adultos alternando com os casos de crianças a cargo de Vera Stella, numa frequência mensal de reuniões”.
Assim começa a história do grupo de psicanalistas de Campinas.
Fotos da comemoração de final de ano, em dezembro de 1983.
Foto 1 - Prof. Antônio Muniz Rezende, Sonia Rezende, Vera Stella Telles, Dr Odilon de Mello Franco Filho e Alicia Beatriz orado de Lisondo
Foto 2 - Vera Stella Telles e Prof. Antônio Muniz Rezende
Foto 3 - Dr Odilon de Mello Franco Filho, Prof. Antônio Muniz Rezende e Sonia Rezende
Fotos da comemoração de final de ano, em 1984, no Hotel Villa Rica, tendo como convidada especial a Profa. Vera Stella Telles.
Foto 1: Membros do grupo
Foto 2: Membros do grupo
Foto 3: Hélio Sebastião Amâncio, Ismael Gripp, Ana Maria Carneiro
Continuando a descrição do percurso de grupo, segue o documento:
“No final do ano de 1985 o grupo decide escutar outras vozes para ampliar seus modelos de trabalho. O Dr Antônio Sapienza e as Sras. Myrna Pia Favilli e Neyla Regina Ávila F. França aceitaram então esse convite durante o ano de 1986.
No final deste ano os trabalhos foram encerrados com um convite especial à Professora Virgínia Leone Bicudo, uma das fundadoras do Instituto de São Paulo e pessoa que sempre colaborou com alguns membros individualmente e com o grupo de Campinas como um todo.
Uma mudança nas atividades é proposta no ano de 1987; a tarefa de coordenar o grupo tornara-se bem mais complexa e extensa. O crescimento numérico trouxe uma maior diversidade de interesses e novas questões se impuseram: a necessidade de formarem-se subgrupos para estudos mais específicos, definição de critérios para admissão e permanência no grupo, sua constituição em um núcleo que possa, futuramente, receber o reconhecimento formal da Associação Brasileira de Psicanálise, em função do adequado desenvolvimento de seus integrantes no trabalho analítico.
Surgiu o primeiro subgrupo de estudos: voltado para o atendimento de crianças tendo como Coordenadora D. Ernestina Vono Carneiro de Souza e como Supervisora convidada D. Izelinda Garcia de Barros.
O grupo também se prepara para receber em Campinas o Prof. Dr. Pierre Fédida: organizam-se seminários teóricos apresentados pelo Prof. Dr. Antônio Muniz de Rezende, pelo Dr. Hélio Amâncio de Camargo e D. Alicia Beatriz Dorado de Lisondo sobre artigos e livros publicados pelo mesmo.
Em 27 de agosto de 1987 o Prof. Dr. Fédida pronuncia uma conferência “A Psicanálise e seus fins” no C. C. Cultural de Campinas. Em 3 de setembro realiza uma supervisão em grupo para todo o Grupo – é então o primeiro convidado estrangeiro a vir a Campinas nesta qualidade.”.
Foto 1: Prof. Dr. Pierre Fédida com membros do Grupo
Foto 2: Prof. Dr. Pierre Fédida com Alicia beatriz Dorado de Lisondo, Ismael Gripp e Raquel Fávero
Foto 3: Prof. Dr. Pierre Fédida com (?)
“A seguir, ainda em 1987, são convidados autores de trabalhos apresentados no Sociedade de Psicanálise de São Paulo. Visitaram o Grupo: Dra. Ana maria Andrade de Azevedo – comentando ‘Mudanças’ e ‘Evoluções’. O Dr. Hélio Sebastião Amâncio de Camargo – apresentando ‘Um ser que não pode ser conhecido’ – trabalho que apresentou para sua qualificação como membro titular; uma exposição do Dr. Miguel de la Puente sobre Psicologia Evolutiva.
Em 28 de novembro de 1987, a comissão coordenadora do Grupo reuniu-se com D. Virgínia l. Bicudo como um passo para impulsionar a consolidação e desenvolvimento deste.”
Registro fotográfico do jantar comemorativo do final do ano de 1987, no salão de festas do Dr. Ângelo Satalino.
Foto 1: Membros do Grupo
Foto 2: Membros do Grupo
“No início de 1988 o ingresso de novos integrantes e a necessidade de conter outros interesses refletiram-se na criação de um novo subgrupo coordenado pelo Dr. Hélio Amâncio de Camargo para estudar a obra de Bion.
Outros convidados continuaram a enriquecer o Grupo: o Dr. Elias Mallet da Rocha Barros, a Dra. Elizabeth Lima da Rocha Barros, o Dr. Paulo Duarte Guimarães Filho, o Dr. José Américo Junqueira de Mattos e o Dr. Luiz Carlos Junqueira Uchoa.
Dois colegas, Alicia Beatriz Dorado de Lisondo e Antônio Muniz de Rezende apresentaram ao Grupo os trabalhos realizados para tornarem-se membros associados da Sociedade de Psicanálise de São Paulo”
Supervisão e conferência do Dr. José Américo Junqueira de Mattos.
Foto 1: Hélio Amâncio, (?), (?), José Américo Junqueira de Mattos, (?), Ângelo Satalino, (?), Ernestina Vono Carneiro, Ismael Gripp
Foto 2: Ismael Gripp, José Américo Junqueira de Mattos, (?), (?), Antônio Rezende
Foto 3: José Américo Junqueira de Mattos, Ismael Gripp, (?), (?), Ernestina Vono Carneiro, (?), Hélio Amâncio, Ana Maria Carneiro, Ângelo Satalino.
O livro que registra a história do Grupo, até este momento descreve um percurso de crescimento e desenvolvimentos, mas é, subitamente, cortado por uma notícia impactante,
“Em 03 de outubro o Grupo sofreu a perda do estimado colega Sérgio Radomile, um de seus mais antigos integrantes e seu Coordenador durante o biênio de 85-86; o lamentável acidente automobilístico ocorreu quando voltava de um seminário em São Paulo.”
A história continua:
“Durante todos esses anos, integrantes do Grupo têm estado presente sem reuniões, seminários, Congressos nacionais e internacionais, atentos às oportunidades para desenvolvimento.
Este tem sido o percurso de Grupo de Campinas; que ele continue sendo construtivo, tanto para seus integrantes como para as pessoas que têm procurado uma psicanálise na esperança de serem atendidos na profundidade e complexidade que a postura analítica exige.
Como o Grupo é constituído integralmente por profissionais cuja formação foi realizada no Instituto de Psicanálise de São Paulo, na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é este o momento para expressar todo o reconhecimento e toda a gratidão a aqueles que iniciaram na formação psicanalítica e que têm, através dos anos, oferecido aos seus integrantes, de forma ampla e generosa, seu apoio, compreensão e estímulo.
Os integrantes do grupo agradecem aos seus analistas, aos seus supervisores, aos docentes do Instituto e aos Analistas Didatas D. Virgínia Leone Bicudo e Dr Gecel Luzer Szterling que têm estendido suas funções didáticas de São Paulo até Campinas.
O Grupo de Psicanálise de Campinas compõe-se nesta data dos seguintes integrantes:”
Segue o fax símile da lista dos membros do grupo, conforme consta no final do livro.